Forte Futebol Clube / São Gonçalo

O Forte Futebol Clube, sediado à Rua Visconde de Itaúna, no bairro do Gradim, foi fundado em 9 de Junho de 1931. Sua história no futebol citadino ainda precisa ser desvendada. Sabemos que jogou contra os grandes clubes locais. Neves, Gradim, Flamengo, Flamenguinho, Mutondo, A. C. São Gonçalo e Alcântara. Foi campeão gonçalense nos anos de 1949, 55 e 59, para depois, desaparecer na história local.

A camisa vertical em azul e branco com uma gola em “v” longa. O escudo, lembra muito o de outro clube importante do futebol do Rio de Janeiro, o São Cristóvão. Segundo relatos de moradores antigos de São Gonçalo, o campo do Forte existiu onde hoje está o campus da Faculdade de Formação de Professores, a UERJ-FFP. Uma pena que o clube não tenha deixado mais marcas na história local.

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A história do futebol gonçalense ainda é um tema que deve ser revisitado por seus pesquisadores. De posse do estatuto de fundação do time e das atas das reuniões entre os anos de 1932 até 1941, anos áureos da profissionalização do futebol local, posteriormente terei formas de pontuar alguns elementos da participação de alguns times da fundação da liga desportiva local, incluindo a do Forte Futebol Clube.

Aproveitem a arte da camisa e do escudo, mas agora, digitalmente definidas pelo Sérgio Mello, da página http://cacellain.com.br/.

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Na imagem acima, o escudo e o uniforme na ocasião da fundação do time, na década de 30. Arte: Sérgio Mello
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Esse outro uniforme foi usado pelo Forte F. C. na década de 60, como pode ser visto em registros do Jornal dos Sports dessa época. Arte: Sérgio Mello.

Abração.

Mestre Ziza, da Av. Paiva para o Mundo.

Zizinho nasceu em São Gonçalo, em 14 de Setembro de 1921, na Avenida Paiva, número 77, no bairro de Neves no ano de 1921, e faleceu em Niterói, 8 de Fevereiro de 2002. Foi um dos maiores jogadores da história do futebol mundial. Começou nas divisões de base do Byron, de Niterói e foi revelado, jogando entre 1939 a 1950, no Flamengo, clube no qual ganhou o tricampeonato estadual em 1942, 1943 e 1944, além do Campeonato Carioca de 1939. Zizinho saiu do Flamengo com 329 jogos e 146 gols e considerado o maior ídolo do clube até a aparição de Zico.

Trabalhou na Fábrica de Tecidos do Barreto ainda bem jovem, também trabalhou no Loyd Brasileiro antes de começar a jogar futebol começando pelo Clube Carioca, disputando o Campeonato Niteroiense. Jogou em diversos times do bairro de Neves. Enquanto atuava por times de São Gonçalo e Niterói, permaneceu atuando como operário. Abandonou o Loyd Brasileiro quando foi chamado para integrar o Clube de Regatas do Flamengo.

Zizinho também atuou pelo Bangu, clube que defendeu de 1950 a 1957. Ele deixou o Bangu como maior jogador da historia do clube. Ele é o 5º maior artilheiro da historia do clube, com 122 gols, e o maior artilheiro em uma só partida com 5 gols. Zizinho ainda conseguiu 2 vice-campeonatos cariocas pelo Bangu, 1 como jogador em 1951 e outro como técnico em 1965. Ele terminou o Campeonato Carioca de 1952 como artilheiro e venceu 2 Torneios inicio do Rio de Janeiro e o Torneio inicio do Rio-São Paulo. Foi ídolo também no São Paulo, onde disputou 60 jogos e marcou 24 gols. Ele atuou na seleção de 1942 a 1957. Foram 54 jogos pela Seleção Principal, com 37 vitórias, 4 empates e 13 derrotas, marcando 30 gols. Na Copa de 1950, foi considerado o melhor jogador. Dizem que Zizinho foi o ídolo de Pelé em sua infância e que o maior de todos os tempos se tornou jogador inspirando-se no craque da Copa de 1950.

Seu nome Thomaz Soares da Silva, mas foi profissionalmente, era sempre chamado de Zizinho. Mas, para aqueles com mínimo de discernimento futebolístico, Zizinho tinha um adjetivo que vinha antes. Mestre. Mestre Ziza.

Na foto superior o mestre Ziza, junto com os jogadores Formiga (Francisco Ferreira de Aguiar) e Djalma Santos, na Seleção Brasileira, mesma época era estrela do Flamengo.

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas, pessoas praticando esportes, criança e atividades ao ar livre
Mestre Ziza durante a Copa do Mundo de 1950.

Aureliano de Sousa e Oliveira Coutinho, Visconde de Sepetiba

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Litogravura de Aureliano, Visconde de Sepetiba em 1834.

Foi um advogado, juiz de órfãos e político brasileiro, agraciado com o título de Visconde de Sepetiba e condecorado com a Grã-Cruz na Ordem de Nossa Senhora de Vila Nova. Homem de grande destaque no segundo reinado, teve grande valor junto ao então jovem Imperador Pedro II. Além da formação em direito, feita em Coimbra, Aureliano tinha grande habilidade como comerciante e junto as letras, atuando como jornalista ou diplomata. Era um homem de acordos e de bom acesso às diferentes camadas da sociedade, organizando inclusive grandiosos bailes em sua residência, onde reunia a elite da sociedade da época, buscando diversão, poder e novos aliados.

“Nasceu em Itaipú, que na época fazia parte da freguesia de São Gonçalo, termo da comarca de Niterói, noRJ, em 21 de junho de 1800, e faleceu em 25 de setembro de 1855, na mesma cidade. Filho de Aureliano de Sousa de Oliveira Coutinho e Francisca Maria de Proença Coutinho.Cursou, no Rio de Janeiro, a Academia Militar, mas logo a abandonou para formar-se em Direito na Universidade de Coimbra, a forja de onde saíram os grandes homens do início do Império. Foi juiz de fora e ouvidor em Minas Gerais, província pela qual elegeu-se deputado em 1830. Depois, seria ainda deputado pelo Rio de Janeiro (1838/41) e senador por Alagoas (desde 1842). Presidiu as Províncias de São Paulo e Rio de Janeiro, foi ministro do Império e da Justiça em 1833, ministro dos Estrangeiros no ano seguinte, embora interinamente, e no “Ministério da Maioridade”, em caráter efetivo (1840/43). Foi um dos homens mais poderosos de sua época, especialmente nos primeiros anos do reinado pessoal de D. Pedro II, quando desempenhou com o mordomo Paulo Barbosa da Silva o papel de conselheiro ou mentor do jovem imperador. O retrato que dele fez Heitor Lyra (História de D. Pedro II, v. 1, p. 169) é o de “um dos homens mais maneirosos de seu tempo. Inteligente e bem falante, jogador com uma cultura variada, de um mundanismo insinuante e acolhedor, ele tinha, de fato, todos os predicados para vencer.

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Assinatura do Visconde de Sepetiba

A elasticidade do seu espírito, aliada a um temperamento cordial e otimista, o predispunha e acomodava às mais difíceis situações. Era desses homens que a gente acolhe com prazer, com uma simpatia sadia e bem disposta”. Américo Jacobina Lacombe informa, com base em carta dele a Paulo Barbosa, que cultivava a astronomia e o magnetismo. Foi segundo e primeiro vice-presidente, tendo exercido a presidência em diversas ausências do visconde de S. Leopoldo. A Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro publicou vários discursos seus”.

Dados genealógicos.

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Litogravura, s/d.

Filho de Aureliano de Sousa e Oliveira Coutinho e Francisca Flavia de Proença Coutinho, teve como irmãos Saturnino de Sousa e Oliveira Coutinho e Maria Dulce Adelaide De Oliveira. Se casou com Narcisa Emília de Andrada Vandelli, viscondessa de Sepetiba e, posteriormente com Adelaide Guilhermina de Castro Rosa. Foi pai de Aureliano de Sousa Oliveira Coutinho; Alberto de Oliveira Coutinho; Oswaldo Vandelli Xavier de Azevedo; Adolfo Oliveira Coutinho; José Bonifácio de Oliveira Coutinho,  Joana de Oliveira Coutinho e Amália de Sousa Oliveira.

Referências:

Biografia do Visconde de Sepetiba no IHGB
https://goo.gl/NRJn9i

Genealogia do Visconde de Sepetiba
https://goo.gl/Jp2eYp

Monólito do Visconde de Sepetiba no IHP.
https://goo.gl/dMS7V9

Diccionario bibliographico brazileiro. Blake, Augusto Victorino Alves Sacramento, 1827-1903, vol. 1, p. 373.
https://goo.gl/7TYoL4

Obra: “Diccionario de vocabulos brazileiros”

Esse livro é uma contribuição importante para a lexicografia brasileira iniciada em 1832, com a publicação da obra de Luís Maria da Silva Pinto, o ‘Diccionario da Língua Brasileira’. Em 1889, o Visconde de Beaurepaire-Rohan, nascido em São Gonçalo, encerrou esse ciclo das obras lexicográficas brasileiras, com a publicação deste ‘Dicionário de vocábulos brasileiros’, fruto da sua cultura humanística e da observação acurada, em trabalho de campo, fazendo a recolha de vocábulos e frases que ouvia em suas andanças pelo Brasil, onde foi, dentre outras atividades públicas exercidas, ocupante dos cargos de Presidente das Províncias do Pará, Paraná e da Paraíba.

Publicador : Rio de Janeiro : Impr. Nacional
Data de publicação : 1889
Descrição física : 147 p. ; 21 cm.
Assuntos : Brasileirismo, dicionário | Língua portuguesa, dicionário | Língua tupi
Responsabilidade : Pelo tenente-general Visconde de Beaurepaire-Rohan
Endereço para citar este documento : http://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/221706

Henrique Pedro Carlos de Beaurepaire-Rohan, Visconde de Beaurepaire-Rohan.

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Cartão postal de Henrique de Beaurepaire Rohan , 1812-1894 , editado pela Prefeitura do Distrito Federal no Rio de Janeiro , Av. Presidente Vargas , 1261 , 13 x 9 cm

Henrique Pedro Carlos de Beaurepaire-Rohan, conhecido como o Primeiro e Único Visconde com Grandeza de Beaurepaire-Rohan, nasceu em São Gonçalo, no atual bairro de Venda Cruz, onde um dia existiu o 3°BI. Essas terras eram pertencentes a seu pai, sendo conhecida como o sítio de Sete Pontes. Foi um nobre militar, político liberal, geógrafo, abolicionista e escritor que deixou algumas obras importantes na literatura abolicionista brasileira. Como escritor deixou o importante “Dicionário dos Vocábulos Brasileiros”, que pode ser encontrado aqui na biblioteca do Senado Federal e, como abolicionista deixou os textos “A emancipação do elemento servil considerada em suas relações morais e economicas” e “O abolicionismo e seus adversários” que colocarei aqui quando encontrar. O texto abaixo é uma pequena biografia escrita originalmente por Américo Palha e publicada no Diário do Comércio no início do século XX.

“Marechal do Império, sábio, geógrafo, escritor, Henrique de Beaurepaire Rohan foi um dos grandes nomes do segundo reinado. Era um homem no julgamento do Barão Homem de Melo “diante de cuja venerável figura todos se inclinavam tomados de respeito, quando o viam passar na praça pública, como ante a imagem do patriotismo e do saber grave e modesto”.

Nasceu o eminente brasileiro aos 12 de maio de 1812, no sítio Sete Pontes, freguesia de São Gonçalo, na cidade de Niterói. Era filho do Conde de Beaurepaire (Jacques Antonio Marcos), que obrigado pelos acontecimentos na França, imigrou para Portugal e acompanhou a família real ao Brasil em 1807.

Assentou praça aos 7 anos como 1º cadete por especial deferência de D. João VI. Cursou o Colégio Pedro Felix Mallel. Interrompeu os estudos afim de seguir para a Bahia onde o pai, ao lado do general Lahut combatia os portugueses que se opunham a nossa independência política. Em 1822 matriculou-se na Academia Militar. Em junho de 1835, era promovido a 1º tenente. Já fôra 2º tenente em 1820. Conquistando, quatro anos depois, os galões de capitão, passou a servir no Corpo de Engenheiros. Nesse mesmo ano terminava os estudos de matemática.

Relentando na Bahia a revolução conhecida por “sabinada”, o jovem oficial seguiu para aquela Provincia. Ali chegando, já o movimento havia sido debelado pelo general Calado. Este encarregou-o, então, de levantar a planta das posições ocupadas pelo exército imperial. Depois, esteve no Rio Grande do Sul, durante a guerra dos Farrapos, organizando a planta do entrincheiramento da cidade de Porto Alegre. Em seguida, também levantou a planta do Passo de Jacuí.

Diretor das Obras Municipais da Côrte, Beaurepaire foi um espírito incansável. Diz Homem de Melo: “Vê-se que ele se ocupou de todas as questões que, então como hoje, mais interressam aos melhoramentos do Rio de Janeiro”. Propôs o arrasamento do Morro do Castelo, insinuou a construção do canal do Mangue e outras obras de vulto. Manifestando-se sobre a demolição do morro do Castelo, XX-do Castelo ocupa uma parte “crevia” ele: “A base do Morro mais extensa que a praça da Aclamação, o que inutiliza grande parte do terreno que poderia servir para edificações, além do que se destinasse para jardim ds convalescentes do Hospital da Misericórdia, recolhidas e exposas. Se chegasse a arrasar esta montanha, muito ganharia a cidade em extensão e salubridade e embelezamento, como foi claramente demonstrado pelo Dr. Emílio Mala no seu relatório à Academia de Medicina”.

Em 1843, Beaurepaire foi mandado a Mato Grosso com a missão de explorar o Baixo Paraguai. Durante 18 meses esteve nesse serviço, publicando, depois no “Jornal do Comércio” o histórico de sua viagem pelo Paraguai, Corrientes, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Esse seu trabalho lhe valeu a eleição para membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Em 1846, foi encarregado de abrir uma estrada entre Guarapuava e a magem esquerda do Paraná e reconhecer se o rio Iguaç´era navegável até á confluência do Paraná. Diretor da Estrada entre Santos e São Paulo, realizou uma notável administração, sendo de destacar a picada aberta no Piraquê, na face oriental da serra do Cubatão. Em 1852, o ilustre engenheiro era promovido a tenente coronel. Servia no Paraná, como diretor das Obras Públicas. Neste posto, procedeu á exploração em vários pontos da Serra do Mar, levantando a planta de uma estrada entre Curitiba e o litoral, e procurando ao mesmo tempo ligar a cidade á barranca do rio Paraná.

Sobre sua situação naquela Província, escreve um biógrafo: “É em território paranaense que mais e melhor se afirma grande propugnador da melhoria dos transportes, cabendo-lhe estudar e orientar o primeiro governo da nova Província sobre a escolha das três estradas que, então ligavam o litoral á região da serra acima. Pronuncia-se contra o caminho de Itupava, julgando-o “obra admiravalmente má”. Condena o caminho do Arraial com ruim e inadequado a aperfeiçoamento. E decide-se a favor da estrada da Graciosa, que também não considera boa, mas julga passível de melhoramentos, cujo total orça em 250 contos. de réis. Vinte anos depois dessa sua opinião, a Graciosa fica concluída, devido a uma série de esforços, nos quais ainda mais se ilustram os técnicos Tourinho e Rebouças, mas por custo superior a 2000 contos, dos quais cerca de metade fornecidos pelo governo imperial e o restante pela província!”.

Segundo vice-presidente do Paraná, em 27 de julho de 1855, Beaurepaire Rohan assumiu a presidência em setembro, governando por seis meses a Província. Em 1856 é nomeado presidente e comandante de armas do Paraná, e, no ano seguinte, presidente da Paraíba.

Em 1858 era promovido a coronel, e, em 1859, nomeado diretor das Obras Militares da Côrte. Em 1862 foi designado para proceder na Ilha de Fernando de Noronha os estudos no sentido de transformar o presídio daquela ilha em Colônia Agrícola Penitênciária.

Exerceu várias comissões de importância até que em 1864 era promovido a Brigadeiro. Foi então chamado a ocupar a pasta da Guerra no Gabinete do conselheiro Furtado. “Rompendo a guerra contra o Paraguai, diz Homem de Melo, coube-lhe a espinhosa tarefa de organizar a defesa nacional e foi um dos ministros que referendaram o notável decreto chamando os Voluntários da Pátria, decreto que tanto patriotismo despertou no coração dos brasileiros, organizando esses inolvidaveis batalhões patrióticos que com tanto entusiasmo marcharam para os campos do Paraguai”.

Beaurepaire foi de opinião que o comando supremo das nossas forças deveria sr dado a Caxias. Chegou mesmo a convidar o grande soldado. Entretanto, o Gabinete não concordou com certas condições oferecidas por Lima e Silva e isso levou o ministro da Guerra a demitir-se do cargo, sendo substituído pelo Visconde de Camamu. Assistiu com o Imperador a rendição de Uruguaiana.

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Henrique Pedro Carlos de Beaurepaire-Rohan (Fonte: Museu Paranaense)

Comandante das Armas em Pernambuco de 1866 a 1867. Promovido a marechal de campo graduado em 1874. Nesse mesmo ano, foi encarregado de levantar a Carta Geral do Império, que figurou na Exposição de Viena. Em 1876 era efetivado no posto de marechal de cmapo. Em 1880 promovimento a tenente-general. Em 1886, conselheiro de Estado extraordinário. Em 1888, recebia o título de Visconde com grandeza. Em 14 de janeiro de 1890, já na República, Beaurepaire fez parte da comissão encarregada de elaborar o código Militar, batendo-se, então, contra a pena de morte. Depois de setenta anos de valiosos serviços prestados a pátria, com dignidade, sabedoria e devotamento, foi Beaurepaire Rohan reformado e nomeado ministro do Supremo Tribunal Militar.

Faleceu o grande brasileiro aos 10 de julho de 1894, na cidade do Rio de Janeiro. Beaurepaire Rohan foi um ardoroso abolicionista e, sobre esse assunto deixou duas obras: “A emancipação do elemento servil considerada em suas relações morais e economicas” e “O abolicionismo e seus adversários”.”

Existem algumas outras pesquisas que trabalham a figura de Beaurepaire Rohan, como é o caso de “Melhoramentos urbanos e a cidade brasileira no império” de Herta Franco e “Henrique Beaurepaire Rohan e o espaço rural brasileiro nos oitocentos“, de Eveline de Souza. Muitos aspectos ainda precisam ser explorados sobre a história desse importante gonçalense que pouco é conhecido pela população local.

Referências:

BLAKE, Augusto Victorino Alves Sacramento. Diccionario bibliographico brazileiro. Typographia Nacional, Rio de Janeiro, 1895.
MELLO, Barão Homem de. Biografia do Visconde de Beaurepaire Rohan. Rio de Janeiro: Typografia Leuzinger, 1889.
Almanak do Ministério da Guerra no Anno de 1885, Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1885, 372pp.

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Brasão de Henrique Pedro Carlos de Beaurepaire-Rohan, visconde de Beaurepaire-Rohan (Ainda sem a indicação de grandeza).

Praça do Zé Garoto

A praça é do Zé Garoto? Bem, oficialmente ela é Praça Estephania de Carvalho, em homenagem a uma das mais proeminentes e influentes educadoras do município de São Gonçalo, todavia, antes mesmo disso, ela era simplesmente a praça 5 de Julho. Mas por que essa insistência em chamar a praça principal de São Gonçalo em Zé Garoto?
Primeiro devemos saber quem era o tal do Zé Garoto. E o apelido está ligado a pessoa em particular, o imigrante português José Alves de Azevedo, que aos dez anos de idade chegou à São Gonçalo. Muito popular entre a população local, o português era carinhosamente chamado de “Zé Garoto” (Zé por causa de seu nome, José, e Garoto porque era comum chamar meninos desta forma).

Já adulto, Zé Garoto trabalhava como comerciante. Possuía um armazém onde hoje é o prédio do Antigo Fórum da cidade; suas terras englobavam a área em que hoje encontramos a Escola Estadual Nilo Peçanha e a principal praça da cidade, a Praça Professora Estephania de Carvalho. Entre o armazém e o espaço onde hoje ficam a escola e a praça havia o Largo (do Zé Garoto), ponto obrigatório do bonde com destino à Alcântara.

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Este campo em primeiro plano é a praça 5 de Julho (atual praça Estephânia de Carvalho ou Zé Garoto). O prédio branco à esquerda é o Grupo Escolar Nilo Peçanha. Ao centro, o armazém do Zé Garoto e à direita, na rua, um bonde da Cantareira passando. O armazém está onde fica a atual Câmara de Vereadores (antigo Fórum). Via: Fabio Rangel.

Foi um importante cenário durante as décadas de 40 e 50 do movimento operário gonçalense, sendo palco importante de intensas manifestações da organização local. Espaço público e livre, a praça se tornou o reduto dos manifestantes (ligados aos estaleiros locais, metalúrgicos da Hime, ao fabrico do fósforo, da fábrica de cimento Mauá e ao setor de pescado) que reivindicavam melhorias imediatas (salário mínimo, repouso semanal, indenização para vítimas e eleições nos sindicatos), a praça do Zé Garoto ou Estephania de Carvalho, sempre teve mais significado do que o de uma simples e comum praça. Por mais que o tempo passe, a figura do Zé Garoto sempre continua presente naquele pedaço de São Gonçalo onde o bonde fazia a curva no sentido rumo ao Alcântara.

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Antes de ser chamada de Estephania de Carvalho, a praça era conhecida por 5 de Julho.

A passagem de Maria Graham na São Gonçalo do século XIX

Sexta-feira, 1° de março – O tempo está agora extremamente quente, o termômetro chega raras vezes abaixo de 88°, e tivemos a bordo 92° Fahrenheit. O capitão Graham teve um leve ataque de gota, razão pela qual não desembarquei desde a nossa volta da Bahia; mas como ele está hoje um pouco melhor, insistiu em que eu acompanhasse um grupo de nossos rapazes numa excursão pela baía para ver uma fazenda e um engenho.

Maria Callcott, retratada por seu segundo marido, Sir August Callcott.

À 1h, nosso amigo Senhor N. procurou-nos com uma grande embarcação do país, melhor para esses fins que os nossos barcos de bordo. Aquelas embarcações têm um toldo alto e dois remos grandes, triangulares, são manobrados, conforme o tamanho, por quatro, seis, oito ou mais negros, além do homem do leme. Os remadores erguem-se a cada remada e depois atiram-se de costas em seus assentos. Creio ter ouvido de atuais oficiais de marinha ser esta a maneira de remar antigamente os barcos de almirante na Inglaterra. Os remadores são aqui negros por toda a parte, alguns livres, e donos de seus barcos, outros escravos, que são obrigados a levar para casa uma quantia diária fixa, que passa para os patrões. Estes passam uma vida de total indolência, e são assim alimentados pelos seus escravos.

O lugar para onde estamos indo é Nossa Senhora da Luz, cerca de 12 milhas do Rio, para o fundo da Bahia, perto da boca do rio Guaxindiba, rio esse que nasce na serra de Taipu, e ainda que seu curso direto seja somente de cinco milhas, suas voltas medem 20 ou mais. E navegável e suas margens são espantosamente férteis. (*) Nota do Tradutor

A tarde estava encantadora e passamos através de muitas ilhas risonhas e promontórios alegremente arborizados, coalhados de jardins e casas de campo e de onde partem cada manhã para a cidade provisões, em inúmeros barcos e canoas através da baía. Nossa primeira impressão de Nossa Senhora da Luz foi uma alta margem vermelha, meio coberta de grama e árvores, erguendo-se sobre a água no sol da tarde, tal como Cuyp(**) Nota do Tradutor teria escolhido para um quadro.

No momento em que eu estava desejando alguma coisa para dar-lhe animação, surgiram os bois pertencentes ao engenho e desceram para beber e refrescar-se na baía, completando assim a cena. O gado é aqui grande e bem conformado, um tanto como a nossa raça Lancashire, e de cores variadas, ainda que predominantemente vermelho. Ao dobrar um promontório à margem, chegamos a uma igrejinha branca, com algumas árvores veneráveis em torno(*); Nota do Tradutor além dela ficava a casa, com uma comprida varanda, sustentada por colunas brancas, e, ainda adiante, o engenho de açúcar, a cerâmica e a olaria. Desembarcamos junto à casa; mas como a praia é rasa e lamacenta fomos carregados para a praia pelos negros. Não há nada mais belo que a paisagem aqui. Da varanda, além do primeiro plano doméstico e pitoresco, vemos a baía manchada de ilhas rochosas. Uma delas, chamada Itaoca, é notável por ter sido, na opinião dos índios, a residência de uma pessoa divina. Está ligada às tradições relativas ao benfeitor Zome (Sumé], que lhes ensinou o uso da mandioca e em quem os primeiros missionários aqui imaginaram ver o apóstolo São Tomé.(**)  Nota do Tradutor Consiste em uma imensa pedra rachada de alto a baixo e um pequeno espaço de terra e areia em volta, no qual há árvores e arbustos da mais fresca verdura; algumas outras ilhotas são lisas e outras têm, de novo, casas e lugarejos.

O conjunto da cena é limitado pela Serra dos Órgãos, cujos cumes enroscados e fantásticos, atraindo as nuvens que passam, proporcionam uma permanente mudança para os olhos.

Verificamos que devido à nossa negligência em mandar previamente um aviso de nossa visita, nem o proprietário, nem sua house-keeper estavam em casa. Contudo, o Senhor N., como velho amigo, dirigiu-se ao galinheiro e deu ordens para uma excelente refeição. Enquanto ela se preparava, fomos ver a cerâmica, que faz somente rude louça vermelha. A roda usada aqui é a mais grosseira e primitiva que já vi e o oleiro é obrigado a sentar-se ao lado dela. O barro tanto para os potes como para os tijolos é extraído do local. É rude e vermelho, e amassado com os pés dos burros, mas em tudo que usamos ferramentas são empregadas aqui as mãos nuas dos negros.

Os fornos para assar os tijolos e potes são em parte escavados no morro e fechados na frontaria com tijolos. Deixando a olaria, galgamos o morro que assinala a primeira aproximação de Nossa Senhora da Luz; ao subirmos o íngreme e rude flanco, nossos cães perseguiram um rebanho de carneiros, de modo tão pitoresco e precioso como o próprio Paul Potter(*) Nota do Tradutor o teria desejado. Eles haviam estado jazendo em volta da raiz de uma imensa acácia velha, decorada de inúmeras parasitas, algumas das quais penduradas como hera do tronco e outras trepando até os altos ramos e dali caindo em guirlandas sedosas e cinzentas, ou como as tilândsias, adornando-a com centenas de flores cor-de-rosa e brancas. No meio disto muitas formigas e abelhas haviam feito ninho e tudo estava transbordando de vida e beleza.

A lua ia alta muito antes de voltarmos de nossa excursão e muito antes da chegada de nosso hospedeiro. Se o embaixador de Nápoles que disse a Jorge III que a lua de seu país valia o sol da Inglaterra tivesse estado no Brasil, eu quase poderia perdoar a hipérbole. A luz clara e suave agindo em tal cenário e a fresca e confortadora brisa da tarde, depois de um dia de calor intolerável, tornam, de fato, a noite o momento de prazer neste clima. Nem eram desagradáveis os rudes cantos dos negros, a carregarem os barcos que deviam estar prontos para zarpar para o porto com a brisa de terra matutina.

Quando estávamos olhando a baía, apareceu um barco maior: aproximou-se da costa e nosso hospedeiro, Senhor Lewis P., que administra a fazenda, desembarcou e recebeu benevolamente nossas desculpas por virmos sem aviso prévio. A visita fôra há muito combinada, mas nossa estada no Rio anunciava-se agora tão curta que, se não tivéssemos vindo hoje, talvez não pudéssemos mais fazê-lo. Conduziu-nos ele ao jardim, onde ficamos até que o jantar ficou pronto. Os guardas-marinha nunca haviam encontrado tantas laranjas e fizeram-lhes ampla justiça. As frutas e verduras da Europa e América, das zonas temperada e tórrida, encontram-se aqui. Nem estão esquecidas suas flores; por cima de pequeno canteiro, uma laranjeira e um tamarindeiro ensombravam um agradável banco; junto a ele, um tanto à maneira oriental, ergue-se o muro do poço rebocado de branco e coroado com potes de flores, cheios de rosas e ervas.

[Sábado], 2 [de março] – Acordei de madrugada e andei a cavalo com Mr. N. pela fazenda, enquanto Mr. Dance, meu primo Glennie e dois rapazes iam caçar no pântano à beiro do rio.

Cada volta em nosso passeio revelava um novo e variado panorama à nossa vista: ao pé, o canavial luxuriante, adiante as laranjas amadurecendo e as palmeiras; em torno e espalhados pela planície arejada pelos ventos de Guazindiba [Guaxindiba], os limoeiros, as goiabeiras e um milheiro de esplêndidos e odorosos arbustos alindavam o caminho. Mas tudo é novo aqui. As linhas extensas das casas de fazenda, que aqui e ali ressaltam da solidão da natureza, não sugerem nenhuma associação com qualquer ideia de melhoria, tanto no passado como no presente, nas artes que civilizam ou que enobrecem o homem.

As mais rudes manufaturas, mantidas por escravos africanos, metade dos quais importados recentemente (isto é, ainda sofrendo com a ausência de tudo que dá valor à casa, mesmo de um selvagem), são os únicos sinais de aproximação do progresso. E, ainda que a natureza seja ao menos tão bela como na Índia ou na Itália, a falta de qualquer relação com o homem, como ser intelectual e moral, retira-lhe metade do encanto. Voltei contudo bem satisfeita de meu passeio, e encontrei meus jovens esportistas não menos satisfeitos com a excursão da manhã; não que tivessem matado narcejas, como pretendiam, mas tinham caçado um enorme lagarto (Lacerta marmorata), de uma espécie que não haviam visto até então. Tinham encontrado o grande caranguejo de terra (Ruricola) e haviam trazido uma ave de contramestre, espécie de pelicano (Pelicanus leucocephalus), que pretendiam empalhar. Em consequência, depois do almoço, como o tempo estava muito quente para prosseguir, o pássaro e o largato foram ambos esfolados e as espingardas limpas. Eu fiz um esboço da paisagem.

Á tarde fiz um longo passeio a um ponto de onde se avista distintamente toda a baía com a cidade ao longe. No caminho paramos numa casa de campo onde o Senhor P., que é aqui literalmente “rei, sacerdote e profeta”, tinha uma investigação a fazer em relação à saúde dos moradores. Eram eles dois negros envelhecidos a serviço da fazenda e hoje inúteis. Vi exemplos de alguns nesse caso serem libertados, isto é, jogados portas a fora para morrer de fome. Estes aqui teriam direito, pelas regras da fazenda, se não pela lei, a receber diariamente a ração dos negros que trabalham, mas eles não o quiseram. De fato vivem numa cabana em terras do senhor, mas sustentam-se com a criação de algumas aves e com a fabricação de cestas: tão caro é o sentimento de independência, mesmo na idade madura, na doença e na escravidão.

Domingo, 3 [de março] — Saí antes do almoço em companhia de um carpinteiro negro como guia. Este homem, de alguma instrução, aprendeu seu ofício de modo a ser não só um bom carpinteiro, mas também um razoável marceneiro. Em outros assuntos revela uma rapidez de percepção que não dá fundamento à pretendida inferioridade da inteligência negra. Fiquei muito grata às observações que ele fez sobre muitas coisas que achei novidades, e à perfeita compreensão que parecia ter de todos os trabalhos de campo. Depois do almoço, assisti à revista semanal de todos os negros da fazenda. Distribuíram-se camisas e calças limpas aos homens; blusas e saias às mulheres, de algodão branco muito grosso. Cada um, à medida que entrava, beijava a mão do Senhor P. e curvava-se diante dele dizendo: “A bênção, meu pai” ou “Louvados sejam os nomes de Jesus e Maria” e recebia em resposta, respectivamente: “Deus te abençoe” ou “Louvados sejam”. Este é o costume nas velhas fazendas: é repetido de manhã e à noite e parece estabelecer uma espécie de parentesco entre o senhor e o escravo. Deve diminuir os males da escravidão quanto a um, a tirania do patrão quanto a outro, reconhecer assim, acima de todos, o Senhor, do qual ambos dependem.

   À medida que cada escravo era passado em revista, faziam-se algumas perguntas relativas a ele próprio, sua família, se ele a tinha, e seu trabalho. Cada um recebia uma quantidade de rapé ou tabaco, segundo a preferência. O Senhor P. é uma das poucas pessoas que encontrei a conversar no meio dos escravos, e que parece ter feito deles objeto de atenção racional e humana. Contou-me que os negros crioulos e mulatos são muito superiores em diligência aos portugueses e brasileiros, os quais, por causas não difíceis de serem imaginadas, são, pela maior parte, indolentes e ignorantes. Os negros e mulatos têm fortes motivos para esforçar-se em todos os sentidos e serem, por consequência, bem sucedidos naquilo que empreendem. São os melhores artífices e artistas. A orquestra da ópera é composta, no mínimo, de um terço de mulatos. Toda pintura decorativa, obras de talha e embutidos são feitos por eles; enfim, excelem em todas as artes de engenho mecânico.

À tarde acompanhei o Senhor P. para ver os negros receberem a ração diária de comida. Consistia em farinha, feijão e carne-seca, uma quantidade fixa de cada coisa por pessoa. Um homem pediu duas rações em vista da ausência do vizinho, cuja mulher pedira que lhe fosse enviada sua quota para estar preparada quando ele voltasse.

Algumas perguntas feitas pelo Senhor P. acerca dessa pessoa induziram-me a perguntar sua história. Parece que é ele um mulato remador, o escravo de mais confiança da fazenda, e rico, porque foi tão industrioso que conseguiu uma boa porção de propriedade privada, além de cumprir seus deveres para com o senhor. Na sua mocidade, e ainda não é velho, havia-se ligado a uma negra crioula, nascida, como ele, na fazenda; mas não se casou com ela senão quando obteve bastante dinheiro para comprá-la, de modo que seus filhos, se os tivesse, nascessem livres. Desde esse tempo enriqueceu bastante para comprar a sua própria liberdade, mesmo pelo alto preço que um escravo como ele deve alcançar, mas o seu senhor não lhe quer vender a alforria, por serem os seus serviços valiosos demais para dispensá-los, apesar de sua promessa de ficar trabalhando na fazenda. Infelizmente, esta gente não tem filhos. Portanto, pela morte deles, a propriedade, agora considerável, reverterá ao senhor. Se tivessem filhos, como a mulher é livre, eles poderiam herdar a propriedade materna e não há nada que possa impedir ao pai transferir à esposa tudo o que possui. Gostaria de ter o talento de escrever uma novela a respeito dessa história de escravos; mas os meus escritos, como os meu desenhos, não conseguem ir além da descrição da natureza e permito que melhores artistas possam aproveitar o assunto.

A noite foi muito tempestuosa. Nuvens pesadas haviam coberto a serra dos Órgãos; fortes relâmpagos, chuva violenta e vento ruidoso ameaçaram a fazenda com uma noite de terror. Mas tudo passou, como visão da grande e brilhante beleza de uma tempestade elétrica numa terra montanhosa; quando a lua rompeu através das nuvens, a noite parecia, em contraste com as últimas poucas horas, ainda mais encantadora do que antes.

“Sable clouds

Turned forth their silver lining on the night,

And cast a gleam over the tufted grove.”

(*)  Nota do Tradutor

Foi, então, quando ouvi sons de música, – não exatamente como um eco do poema de Milton com a melodia de Henry Lawes(*),  Nota do Tradutor

com que a noite e o espetáculo me haviam feito sonhar — mas a voz dos escravos, em noite de férias, enganando seus sofrimentos com cantigas estranhas tocadas em rudes instrumentos africanos. Tomando um de meus companheiros de bordo, fui logo às cabanas dos escravos casados, onde se realizava a função, e encontrei os grupos a brincar, a cantar e a dançar à luz da lua. A veneração supersticiosa por este belo planeta dizem ser bem generalizada na África, tal como pelas Plêiades entre os índios do Brasil; provavelmente os escravos, ainda que batizados, dançam para a lua lembrando-se de casa. Quanto aos instrumentos, são as coisas menos artificiais que jamais produziram sons musicais. E contudo não produzem efeito desagradável. Um é simplesmente composto de um pau torto, uma pequena cabaça vazia e uma só corda de fio de cobre. A boca da cabaça deve ser colocada na pele nua do peito, de modo que as costelas do tocador formam a caixa da ressonância, e a corda é percutida com um pauzinho.

Um segundo tem mais a aparência de um violão: a cabaça vazia é coberta com uma pele; tem um cavalete e duas cordas; é tocado com os dedos. Um outro, da mesma classe, é tocado com um arco; não tem senão uma corda, mas é trasteado com os dedos. Todos eles são chamados gourmis [sic]. Havia, além deles, tambores feitos de escavações em troncos de árvores, de quatro ou cinco pés de comprido, fechados de um lado com madeira e recobertos de pele do outro lado. Para tocá-los, o tocador põe o instrumento no chão, monta em cima, e bate o ritmo com as mãos para seu próprio canto ou para o som dos gourmis.(***)  Nota do Tradutor A pequena marimba tem um som muito doce. Em uma peça chata de madeira sonora, fixa-se um pequeno cavalete e a este se amarram pequenas chapas de ferro, de diversos tamanhos, de modo que ambos os lados vibrem sobre a tábua, sendo um mais largo e mais elevado que o outro. Este lado largo é tocado com os polegares, sustentando-se o instrumento com ambas as mãos. Todos eles são tocados de modo peculiar e com grande nitidez, especialmente a marimba, mas como não sou música não sei explicar os seus métodos.

   4 [de março] — Fiquei realmente muito triste esta manhã pelo nascer do sol, ao ver os barcos prontos para levarem-nos de Nossa Senhora da Luz, onde havia aproveitado nossos três dias tanto quanto possível, em boa companhia, com um amável anfitrião, o tempo livre e sem nenhuma obrigação, tal como poderia convir aos habitantes do castelo da indolência, “onde cada qual vagabundeava da maneira mais agradável”.

“There freedom reigned without the least alloy;

Nor gossip’s tale, nor ancient maiden’s gall.

Nor saintly spleen, durst murmur at our joy,

And with envenomed tongue our pleasures pall.

For why? There was but one great rule for all:

To wit, that each should work his own desire.”

(*)  Nota do Tradutor

Voltamos ao navio por caminho diferente do que viéramos, através do arquipélago de lindas ilhas na parte oriental da baía. Tive o prazer de encontrar o capitão realmente melhor, ainda que com os pés ainda um pouco fracos.

Referências:

BELLUZZO, Ana Maria de Moraes. The Voyager’s Brazil. São Paulo, Metalivros; Salvador, Fundação Emílio Odebrecht: 1995.

CERDAN, Marcelo Alves. Maria Graham e a escravidão no Brasil: Entre o olhar e o bico de pena de uma viajante inglesa do século XIX. Cadernos de História Social (Campinas), v. 10, p. 121-147, 2003.

GRAHAM, Maria Dundas. Diário de uma viagem ao Brasil e de uma estada nesse país durante parte dos anos 1821, 1822, 1823. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1956.

GRAHAM, Maria. Diário de uma viagem ao Brasil. Belo Horizonte; São Paulo: Ed. Itatiaia; EDUSP, 1990. 423p. il.http://www.ifch.unicamp.br/ojs/index.php/historiasocial/article/view/82/76

LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário Crítico da Pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988.

Brasiliana da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro, 2001.

3° Batalhão de Infantaria: O Infante Esquecido

Por Wilson Vasconcellos.

Construído na década de 20, no início do século passado para sediar o 3º Regimento de Infantaria do Exército (Regimento Araribóia), foi transformado em 3º Batalhão de Infantaria Motorizada, situado à Rua Dr. Porciúncula, 395, bairro de Venda da Cruz, no município de São Gonçalo-RJ, numa área de 146.772,00 m² (cento e quarenta e seis mil setecentos e setenta e dois metros quadrados) o que equivale a 17 (dezessete) campos de futebol, com as medidas do Maracanã.

A unidade teve papel importante na Batalha de Monte Castelo, Itália, no decorrer da Segunda Guerra Mundial.

Batalha em Monte Castelo, Itália (1945)

São Gonçalo enviou um bom contingente de soldados, nascido na cidade. Isto se deve ao fato de que na época do embate a cidade contava com um Regimento de Infantaria, com soldados das três Forças Armadas que lá treinavam. Antes da Segunda Guerra Mundial, o Coronel Zenóbio da Costa comandava a unidade; quando foi designado para Força Expedicionária Brasileira (FEB), então como General, vinha pessoalmente a unidade escolher os melhores homens para se tornarem expedicionários. (SILVA, 2003).

Comandante do 14 RI..Zenóbio da Costa , comandante da FEB, com a sociedade Gonçalense. Fonte: Amigos de São Gonçalo e sua História.

Fotografias dos tempos áureos do 3° Regimento de Infantaria. Quartel do 3º Batalhão de Infantaria Fonte: Campos
3° Regimento de Infantaria, 20set. 1941
Esq./dir. , em primeiro plano: Ernani Amaral Peixoto (3°) e Getúlio Vargas(5°)
Getúlio Vargas, Ernani Amaral Peixoto e Filinto Müller em visita ao 3º Regimento de Infantaria (RI) do Exército (São Gonçalo, RJ, 20 set. 1941) Fonte: CEPDOC/FGV
3° Batalhão de Infantaria (já desativado) 22 abr. de 2013 Fonte: Wilson Vasconcelos (TAFULHAR)

O 3º Batalhão de Infantaria foi desativado

No ano de 2007, o 3° Batalhão de Infantaria em Venda da Cruz foi desativado e transferido para  a cidade de Barcelos, no Amazonas, e se tornou o 3º Batalhão de Infantaria de Selva (3° BIS).

3º Batalhão de Infantaria de Selva (3° BIS), Amazonas. 8 de set. 2010 (inauguração)

3° Batalhão de Infantaria desativado em 2007: Propostas

Em 18 de outubro de 2007, na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ), presidida pelo deputado Jorge Picciani, propõe  em Indicação Legislativa nº 163/2007, a implantação de um Batalhão da Polícia Militar no 3° BI.

Objetivo: “proporcionar maior segurança à população, bem como aproveitar o espaço em que já funcionava um órgão militar, com características necessárias à formação de profissionais de segurança pública (…) despesas decorrentes da Secretaria de Segurança Pública”.

Em novembro de 2007, – Indicação Legislativa nº 164/2007 – propõe a implantação de uma Escola Técnica Profissionalizante na área de petróleo, gás e meio ambiente no 3° BI.

Objetivo: “formar profissionais capacitados para suprirem a necessidade de mão de obra qualificada, para que possam atuar junto ao Complexo Petroquímico, que será instalado nos Municípios de Itaboraí e São Gonçalo (…). Caberão as Fundações ou Empresas Privadas a participarem na qualificação profissional na parte educacional, cultural, esportiva e no meio ambiente, assegurando aos jovens uma formação intelectual. (…) As despesas decorrentes da aplicação desta Lei correrão às expensas de dotações próprias das fundações ou empresas privadas.”

Mudança de Rumo: Desabrigados das Chuvas de Abril de 2010.

Um temporal que durou cinco horas parou o Rio no dia 5 de abril de 2010, deixando a população ilhada na hora de voltar para casa. A chuva forte provocou dezenas de pontos de alagamento e quilômetros de engarrafamentos de norte a sul da cidade. Em 24 horas, entre os dias 5 e 6, choveu 280 milímetros — o dobro da média histórica para o mês de abril inteiro.

Deslizamento no Morro do Bumba, Niterói-RJ, 2010 Fonte: Ambiencia.org

Em 6 de abril de 2010, ocorre um forte deslizamento de terra no local conhecido como Morro do Bumba, na cidade de Niterói, que resultou em morte de dezenas de pessoas. Para além, muitos moradores ficaram desabrigados. O episódio ficou conhecido como Tragédia do Bumba, pois a comunidade que leva este nome teve o maior número de vítimas dos desabamentos.

Nos dias que sucederam ao desabamento, os desabrigados se dividiram em dois abrigos oferecidos pela prefeitura de Niterói: o 3º BI, que fica em Venda da Cruz, São Gonçalo, e o 4º G-CAM, localizado no bairro Barreto, Niterói para instalação provisória destas famílias. Os referidos quartéis foram provisoriamente adaptados para atender aos desabrigados naquele momento de desespero, em que perderam suas casas, não gerando qualquer direito adquirido.

No 3º BI, suas instalações foram divididas ao meio: parte direita serve como moradia provisória para os desabrigados das chuvas no Morro do Bumba, em Niterói e a parte esquerda a Delegacia Especializada de Atendimento a Mulher (DEAM) e a 72ª Delegacia Legal. Estas funcionam de forma rudimentar, com máquinas de escrever, sem banheiros e recursos mínimos, bem aquém de uma estrutura padrão de uma Delegacia Legal.

Em abril de 2011, a prefeitura de São Gonçalo elabora um parecer técnico favorável, através da Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Saneamento Ambiental (EDURSAN), no intuito de destinar o espaço (do 3º BI) na utilização do “Complexo Municipal de Educação, Cultura, Esporte e Lazer e demais Serviços Municipais” e preservar a estrutura arquitetônica.

Em Julho de 2011, a Câmara Municipal aprova e a prefeita sanciona como Patrimônio Público Histórico Cultural, Paisagístico, Artístico e Ecológico a área total (LEI N°.362/2011) – livre e construída do antigo 3º Batalhão de Infantaria Motorizada (3º BI), no bairro de Venda da Cruz, destinada aos usos da cultura, esporte, lazer, turismo e atividades correlatas à preservação da natureza.

Em julho de 2012, o jornal O Fluminense noticia a aquisição do 3° BI pelo governo do Estado do Rio de Janeiro e a consequente utilização do espaço para construção de um conjunto habitacional, além uma creche, escola, posto de saúde e delegacia, no intuito de abrigar 1.200 famílias.

No final de 2012, o governo estadual pressiona a prefeitura de São Gonçalo ao destombamento do 3°BI para que aquela utilize o espaço na construção das habitações e serviços anteriormente divulgados. É preciso destacar a pressão dos movimentos culturais locais, que, articulados, pressionaram o legislativo municipal, o que resultou no não destombamento.

 Em 2013, São Gonçalo elege novo prefeito, mas o fantasma do destombamento permanece. Inclusive ocorre uma reunião secreta dos vereadores da cidade com o Secretário Estadual de Obras. O secretário apresenta uma maquete contendo as intenções do governo do Estado no qual previa: uma delegacia legal, creche, escola, posto de saúde, ginásio poliesportivo, sede social, estacionamento, pequenas áreas de lazer e centros comerciais, além de local para armazenagem de lixo além da promessa de manutenção de alguns prédios do quartel.

Inconformados com a possibilidade de destombamento da área do 3º Batalhão de Infantaria (BI), em São Gonçalo, para a construção de um conjunto habitacional e demais promessas, moradores do município e alguns vereadores programam uma audiência pública em maio de 2013.

Audiência Pública  sobre o 3º BI na OAB . 18 de maio. Imagem: Tafulhar

O destombamento do 3º BI foi defendido pelos vereadores Lecinho (autor do projeto), Sérgio Gevú, deputada Graça Mattos, deputado Altineu Côrtes, pelo secretário Sandro Almeida, pela vice-prefeita Mariângela Valviesse, por representantes das vítimas da tragédia de 2010, mas foi duramente criticado pelos vereadores Diego São Paio, Jorge Mariola, Marlos Costa, Alexandre Gomes, pelo líder comunitário, Valdo Barros, o presidente da UNIJOR, Frederico Carvalho, pelo professor Josemar Carvalho (presidente do PSOL de São Gonçalo), Lucidalva de Paula entre outros.A intenção da audiência pública era discutir sobre o projeto de destombamento do antigo 3º Batalhão de Infantaria do Exército. O encontro teve a presença do subsecretário de urbanismo do Estado, Vicente Loureiro, do presidente da 8ª Subseção da OAB Dr. José Luiz, dos vereadores: Jorge Mariola (que presidiu a seção), Marlos Costa, William Sapucaia, Sérgio Gevú, Diego São Paio, José Carlos Vicente, Iza Deolinda, Lecinho e Professor Paulo, além do secretário municipal de Governo, Sandro Almeida, da vice-prefeita, Mariângela Valviesse, dos deputados estaduais Altineu Côrtes e Graça Mattos e diversos representantes da sociedade civil organizada, como: o presidente da União dos Jornalistas e Comunicadores de São Gonçalo (UNIJOR), Frederico Carvalho, do ativista da UNIBAIRROS, Valdo Barros, e cerca de 150 moradores de bairros como: Jardim Catarina, Salgueiro, Nova Grécia, Novo México, Palmeira, entre outros, que sofreram com as chuvas de 2010. Fonte: Made in Gonça

Em alguns momentos da seção, pessoas protestavam na plateia e precisaram ser advertidas, as vítimas lembraram a tragédia com diversas faixas, banner’s com as cenas de parentes mortos e casas destruídas, além de diversas cruzes colocadas frente a mesa diretora simbolizando os óbitos, foi respeitado um minuto de silêncio em homenagem aos que perderam a vida naquele triste episódio.

Em julho de 2013, a prefeitura de São Gonçalo publica, nos Atos Oficiais do Município, um decreto “tem por objetivo permitir que um ato normativo inconstitucional possa ser descumprido no âmbito do município”, referindo-se à Lei Municipal 362/2011, de iniciativa da Câmara dos Vereadores, que tombou o imóvel do 3º BI. De acordo com a nota da prefeitura, “o decreto municipal não suspendeu a lei e sim autoriza que se pratique atos contrários a ela”. Para além, o Município apresentou representação de inconstitucionalidade da lei perante o Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) para que seja declarada a sua inconstitucionalidade.

Em novembro de 2013, com base no processo 0038275-62.2013.8.19.0000, houve flagrante invasão do poder legislativo na competência exclusiva do poder executivo. Ou seja, o tombamento de bens pressupõe um juízo de conveniência e oportunidade que depende da análise privativa do Prefeito, o que, em tese, não ocorreu.

A Lei Municipal n° 362, de 21 de julho de 2011, denota notória interferência legislativa, não autorizada pela Constituição Estadual, em atividade típica do Executivo, qual seja, a de tombamento de bens, uma vez que esta pressupõe um juízo de conveniência e oportunidade que depende da análise privativa do Prefeito.

Por tais fundamentos, voto no sentido de julgar procedente a Direta de Inconstitucionalidade da Lei Municipal nº 362, de 21 de julho de 2011, do Município de São Gonçalo.

Que fim aguarda o Infante? Só nos resta aguardar.

Para quem é religioso ou simpatizante, deixo uma oração. A oração do Infante.

Imagem elaborada nos tempos áureos do 3° BI. (registro:22. abri.2013)
Imagem elaborada nos tempos áureos do 3° BI. (registro:22. abri.2013)
Imagem do 3° BI. (registro:22. abri.2013)

IMAGENS. CEPDOC/FGV (abril de 2013)

Referências:

AMORIM, Paulo Dartanham Marques. A PARTICIPAÇÃO DA FORÇA TERRESTRE NA HISTÓRIA MILITAR NACIONAL. EM CONFLITOS INTERNOS. s.a. http://www.cprepmauss.com.br/documentos/revolucaesdosanos20eintentonacomunista17892.pdf

INDICAÇÃO LEGISLATIVA Nº 163/2007. A IMPLANTAÇÃO DE UM BATALHÃO DA POLÍCIA MILITAR NO 3° BI.

INDICAÇÃO LEGISLATIVA Nº 164/2007.  A IMPLANTAÇÃO DE UMA ESCOLA TÉCNICA PROFISSIONALIZANTE NA ÁREA DE PETRÓLEO, GÁS E MEIO AMBIENTE NO 3° BI.

JORNAL O FLUMINENSE. http://www.ofluminense.com.br/editorias/cidades/area-do-3%C2%BA-batalhao-de-infantaria-abrigara-conjunto-para-desabrigados-de-sg (abril de 2013)

JORNAL OGLOBO. http://oglobo.globo.com/rio/entidades-protestam-contra-destombamento-do-regimento-arariboia-7040972  (abril de 2013)

LEI N°.362/2011. LEI INSTITUI COMO PATRIMÔNIO PÚBLICO HISTÓRICO CULTURAL, PAISAGÍSTICO, ARTÍSTICO E ECOLÓGICO A ÁREA TOTAL – LIVRE E CONSTRUÍDA DO ANTIGO 3º BATALHÃO DE INFANTARIA MOTORIZADA (3º BI), NO BAIRRO DE VENDA DA CRUZ.

SILVA, R.F. da. A Praça dos Ex-Combatentes: Memória e Esquecimento, São Gonçalo, UERJ-FFP, 2003.

WIKIPÉDIA (Força Expedicionária Brasileira). http://pt.wikipedia.org/wiki/For%C3%A7a_Expedicion%C3%A1ria_Brasileira (abril de 2013)

WIKIPÉDIA (MORRO DO BUMBA). http://pt.wikipedia.org/wiki/Morro_do_Bumba

O Jazigo 387.

Essa a cripta do barão de São Gonçalo e de sua família. Pra quem não conhece a história do Barão aqui vai um resumo.

Belarmino Ricardo de Siqueira, primeiro e único barão com grandeza de São Gonçalo, nasceu em Saquarema, 1791 e faleceu em Niterói em 9 de setembro de 1873. Foi um grande proprietário rural, banqueiro, político, militar e empresário brasileiro.

Em São Gonçalo foi dono das terras da Fazenda Engenho Novo e da Fazenda Jacaré. Como oficial da Guarda Nacional entre os anos de 1826 a 1842, foi comandante superior da Legião de Magé e Niterói. Benemérito, foi provedor do Asilo Santa Leopoldina de Niterói e também membro do conselho fiscal do Instituto Fluminense de Agricultura. Fundou e presidiu o Banco Rural e Hipotecário e foi proprietário de uma companhia fluminense de transportes.

Foi ainda Fidalgo Cavaleiro da Casa Imperial, oficial e comendador da Imperial Ordem da Rosa (1855), além de ter sido elevado a barão de São Gonçalo, por decreto imperial de 19 de março de 1849, e recebido grandeza em 1854.

Uma pena que um homem tão importante para o município, para quem ainda não ligou o nome a localidade, a região de “Quinta Dom Ricardo” faz referência ao Barão, tenha tão pouca importância junto ao lugar que adotou para viver. Sua cripta, onde reside seu corpo e os restos mortais de seus pais e irmãs, encontra-se em estado deplorável, ruindo e amarrada a arames para não desabar.

O esquecimento é ingrato.

Maravilha abandonada.

Com fundação datada em antes de 1620, ou seja, pelo menos 393 anos de história, a Fazenda Colubandê já foi considerada uma das maravilhas de São Gonçalo. É considerada como um marco da arquitetura rural brasileira, um dos poucos exemplares existentes e a única que existe tão próxima da área urbana.São 38 cômodos e subsolo. Isso tudo sem considerar a história da própria, com destaque para a grande produção de açúcar da mesma, a existência de cristãos-novos, a passagem da Inquisição que fez com que a Fazenda Colubandê mudasse de mãos uma grande quantidade de vezes até vir a ser tombada pelo IPHAN em 1939.

A cada dia que passa, os sinais de abandono se tornam mais visíveis. Há, aproximadamente, três meses, a Fazenda Colubandê, em São Gonçalo, está fechada desde a desativação do Batalhão de Polícia Florestal e Meio Ambiente (BPFMA), que teve seu efetivo policial transferido para o Complexo do Alemão, em Bonsucesso, no Rio. Construção histórica do Século XVII, o prédio está cercado de mato e sua iluminação está precária.[1]Entretanto, apesar de toda sua relevância e história, hoje a Fazenda Colubandê, que de tão importante, deu nome ao próprio bairro, sofre com o descaso. Em uma breve busca pela internet, encontramos diferentes mídias denunciando o abandono total deste que vem a ser um símbolo da resistência da história gonçalense. O Jornal do Brasil, em matéria nos anos 80 já denunciava o descaso. Em matéria de 4/10/2012, o jornal “O São Gonçalo” diz o seguinte:

O jornal online “Território Gonçalense” também denunciou o abandono:

No domingo passado (18/11), caminhando pelo bairro do Colubandê, fiquei estarrecido com as imagens de abandono que presenciei da Fazenda Colubandê e da área dos fundos, onde está localizada a Vila Olímpica. […]

Durante a  permanência da Polícia Florestal no local, pelo menos a área da fazenda recebeu cuidados especiais (ver vídeo no final da matéria), mas a Vila Olímpica, segundo frequentadores, ja estava sem ver uma boa manutenção há muito tempo.

Com a saída então do Batalhão, tanto a fazenda quanto a área esportiva agora encontra-se em estado lastimável de abandono.

Para evitar invasões e depredações no imóvel histórico, policiais do 7º BPM (São Gonçalo) têm feito a segurança no local, mas não tem qualquer responsabilidade com a manutenção da área.[2]

            Mas nem tudo são más notícias. Atualmente existe um movimento que busca modificar essa situação da fazenda símbolo de São Gonçalo. A ideia é torna-la um polo cultural com museu, biblioteca, parque, escola técnica e um sem número de possibilidades que podem ser criadas dentro dos seus mais de 120 mil metros quadrados. Esperamos que os governos municipal, estadual e federal intercedam da maneira apropriada. Muito mais do que uma fazenda antiga, ela é um dos últimos símbolos do período colonial, referência única, mundialmente conhecida e, como diria Lucio Costa em seu livro de memórias “Anotações ao de correr da lembrança”, o mais gracioso e puro exemplar.

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Foto a esquerda, a Fazenda Colubandê na década de 30, século XX. Foto a direita, A Fazenda Colubandê na década de 70.
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Foto da Fazenda Colubandê enquanto ainda estava sob administração do Batalhão Florestal.
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Foto recente do Jornal Território Gonçalense, demonstrando o abandono da Fazenda Colubandê.

[1] http://www.jornalsg.com.br/site/geral/2012/10/6/45278/fazenda+coluband%C3%AA+abandonada

[2] http://www.territoriogoncalense.com/2012/11/imagens-desoladoras-do-abandono-da_23.html